segunda-feira, 13 de abril de 2015

A LENDA DE ARIADNE , DIONÍSIO, TESEU E O MINOTAURO


Asterius - O Minotauro

Teseu e Asterius , o Minotauro

Dionísio e Ariadne
O Minotauro era um grande monstro, nascido na família do
rei de Creta, o poderoso governante conhecido como Minos, e
a mulher dele, rainha Pasifae. Ele era metade homem, metade
touro, e tinha o apetite de dez animais selvagens. Dizem que o
Minotauro nasceu do encontro ilícito de Pasifae com um
deus, ou pior, com um grande touro branco. É possível que
isso tenha sido má interpretação de homens repressivos que
não eram capazes de compreender os grandes mistérios dos
antigos. A rainha Pasifae deve ter sido uma sacerdotisa da lua
e encarnação do sagrado feminino, e seu acasalamento com
um sacerdote, disfarçado de touro para representar o sagrado
masculino, foi a encenação de um ritual que tem sido
considerado um mistério místico desde os primórdios da
humanidade: o ritual da união das energias masculina e
feminina, necessário para o equilíbrio da vida na Terra.
Assim, a história de como o Minotauro foi concebido é
cercada de névoas, mas sabemos de uma coisa: ele existiu
como uma combinação do humano e do divino, por isso era
metade milagroso e metade pavoroso. Talvez o segredo da
Decadência esteja dentro da existência do Minotauro. Talvez
ele seja um símbolo da grande perda da compreensão que
ocorre quando os seres humanos não conseguem mais aceitar
sua natureza divina. E, acima de tudo, a perda da nossa
humanidade, quando abandonamos a necessidade de honrar o
masculino e o feminino juntos em sua forma mais divina, a
união sagrada.
O nome de batismo do Minotauro era Asterius, que significa
"ser-estrela", por causa de sua origem divina. Ele era
reverenciado como um deus e, ao mesmo tempo, objeto do
terror dos humanos. Seu corpo era coberto por um desenho
de estrelas para lembrar que todas as criaturas vêm do céu,
mesmo as que parecem ter apenas uma natureza inferior.
Viemos do céu e é para o céu que vamos voltar. Pois o que
está acima está também abaixo.
Asterius nasceu um monstro, uma criatura terrível que exigia
sacrifícios humanos e aterrorizava Creta? Ou se transformou
em monstro porque foi privado de amor e exposto ao ridículo,
à crueldade e à condenação? Ele era certamente uma fonte de
vergonha para o rei Minos, que não suportava a ideia de que
sua mulher o tivesse concebido sem sua pariu ipação. Minos
chegou às raias da loucura de tanto ciúme e queria destruir
Asterius, ma; não tinha coragem de matar o monstro devido à
sua paternidade divina. Em vez disso, o rei criou uma prisão
subterrânea onde poderia alojar aquela criatura indesejada e
mantê-la, assim, fora de vista.
Vivia em Minos um refugiado de Atenas chamado Dédalo, o
Inventor, que foi chamado por Minos para criar uma prisão
para o Minotauro. Foi quando projetava aquela terrível
construção que Dédalo se tornou construtor mestre. O que
criou foi o labirinto, um enorme circuito de passagens que
levavam a um ponto central. Nesse centro ficava o templo em
que a criatura deveria viver. O labirinto foi tão bem
planejado que, uma vez lá dentro era impossível encontrar a
saída. Isso servia para prender o Minotauro, mas também
para aprisionar suas infelizes vítimas, pois, quando entravam
lá, elas não conseguiam mais escapar. A exigência monstruosa
do Minotauro era o sacrifício de sete donzelas e sete rapazes,
enviados ao centro do labirinto a cada nove anos. Ele
devorava todos sem deixar vestígios.
E assim viveu Asterius, o Minotauro, uma vida de deusmonstro,
longe da vista do povo de Creta e encurralado
naquele labirinto subterrâneo. Uma sombra sobre a ilha, a
cada nove anos. O rei Minos e a rainha Pasifae tiveram filhos
humanos, entre eles a princesa Ariadne. A princesa de Minos
era famosa por sua beleza radiante, e se referiam a ela em
todo o mundo como "clara e brilhante". Ela também era
considerada "completamente pura de espírito e coração".
E aconteceu que Creta entrou em guerra contra Atenas. O
irmão de Ariadne e único filho verdadeiro de Minos, um
herói chamado Androgeu, foi morto pelos atenienses em
batalha. O rei Minos lamentou desesperado a perda do filho e
declarou terror absoluto sobre Atenas como vingança. Depois
da conquista, Minos exigiu que os atenienses pagassem o
tributo ao Minotauro com seus próprios filhos, e daí em
diante vinham de Atenas os catorze inocentes levados ao
sacrifício.
O filho mais novo do rei ateniense era um jovem belo e
heróico chamado Teseu. Chegada a hora de Atenas enviar os
seus inocentes para o sacrifício no labirinto do Minotauro,
Teseu se ofereceu para ir como o primeiro dos catorze, pois
estava determinado a enfrentar o Minotauro e matá-lo,
salvando, assim, a vida dos outros e livrando o povo daquele
terror. Apesar de muito jovem, o herói era também muito
inteligente. Ele compreendia que a oferta de sacrifícios para o
Minotauro era uma opção. Era uma tradição que não
precisava ser mantida, mas precisaria de alguém que tivesse
coragem para acabar com aquilo.
A princesa Ariadne um dia caminhava na praia perto do porto
de Creta quando o navio vindo de Atenas atracou para
desembarcar as vítimas do sacrifício. Dizem que ela avistou
Teseu e imediatamente se apaixonou por ele. Ela o
reconheceu como o grande herói capaz de derrotar a
escuridão que pairava sob a superfície de Creta na forma do
seu meio-irmão, o terrível Minotauro Asterius. A princesa
passara a vida inteira assombrada pela morte dos inocentes
para satisfazer aquela fome desumana, no entanto a
compaixão em seu coração também gerava grande simpatia
pelo sofrimento monstruoso dele.
Ariadne planejou um encontro secreto com Teseu na véspera
da cerimônia do sacrifício. E então Ariadne jurou que ajudaria
Teseu, em troca da promessa de ele casar com ela e levá-la
para longe dali.
Acontece que Ariadne fora prometida pelo pai ao libertino
deus Dionísio. Diziam que o deus estava quase louco de
paixão pela beleza pura de Ariadne e que a tinha pedido como
tributo a Minos em troca das vitórias militares contra os
atenienses. Minos cedeu com certa relutância e acabou
selando o acordo. A pura Ariadne era discípula de Afrodite, a
deusa do amor. Por isso não suportava a idéia do casamento
que não fosse por amor verdadeiro, e certamente não queria
se submeter ao destino de ser a humilhada concubina do deus
do hedonismo.
Quando pôs os olhos em Teseu, Ariadne soube que ele podia
mudar o seu destino. Teseu salvaria o povo do Minotauro e
Ariadne do deus sombrio, e faria as duas coisas pela força do
amor. Dizem que Ariadne e Teseu se uniram naquela noite,
com paixão e determinação, de corpo e alma, com confiança e
consciência. Ao fazer isso, ela o protegeu com o poder puro
do seu amor.
Como Ariadne era meia-irmã do terrível animal, ela conhecia
os segredos de como matar o Minotauro e de como sair do
labirinto. E revelou tudo ao seu novo amor. Ela teceu fios
com seu próprio cabelo sedoso e fez um novelo de fios
dourados, fios mágicos que seriam o rastro para ajudar seu
amante a escapar do labirinto. E, por fim, ela lhe deu de
presente uma espada milagrosa, arma que fora forjada para o
deus do mar Poseidon, feita de prata e ouro para representar a
luz do sol e a lua refletida no mar. Ariadne sabia que aquela
arma mataria seu meio-irmão sem causar-lhe nenhum
sofrimento. Teseu não falharia, pois, se seguisse as instruções
dela perfeitamente, mataria o Minotauro com um único e
misericordioso golpe e sairia de lá como herói da luz.
Na manhã seguinte, quando era levado para dentro do
labirinto, o primeiro a ser sacrificado, Teseu amarrou uma
ponta do fio de Ariadne num anel de ferro na entrada do
labirinto, e foi desenrolando o novelo lentamente à medida
que caminhava pelos túneis até o horrendo animal.
No centro do labirinto, Teseu encontrou o Minotauro e o
derrotou em combate corpo a corpo, equilibrado, protegido
pelo amor de Ariadne. O golpe final foi desfechado com a
espada que ela lhe dera. Tarefa cumprida, o herói voltou pelo
caminho que entrara e saiu do labirinto seguindo o fio de
Ariadne, chegando são e salvo à entrada e aos braços de seu
novo amor. Carregando sua princesa nos braços, Teseu soltou
os treze jovens atenienses e voltou para o navio como
libertador do seu povo e grande destruidor do deus-animal.
Navegaram até chegar à ilha de Dia, onde pararam para uma
noite de comemoração e para pegar provisões para o retorno a
Atenas. Infelizmente a alegria durou pouco, porque o deus
Dionísio, ébrio de vinho, apareceu na ilha de Dia para se
apossar de sua noiva. Ariadne era dele por direito, pela lei
divina e humana, ele disse, prometida pelo rei, pai dela. Ela
não podia resistir. No início Teseu enfrentou o deus,
afirmando que Ariadne era sua por vontade dela e que ele
pretendia torná-la rainha de Atenas. Dionísio contraargumentou
lembrando a Teseu que ele podia tornar Ariadne
imortal quando ela se casasse com um deus e que, se o
ateniense de fato a amasse, ia libertá-la para seguir um
destino mais divino. A discussão durou a noite inteira, e o
deus Dionísio não esmoreceu em seus ataques a Teseu.
Era uma escolha terrível para o jovem príncipe de Atenas,
que não era páreo para o esperto e determinado deus. Por fim,
Teseu acreditou que, se resistisse a Dionísio, o deus
provavelmente levaria Ariadne à força e castigaria a ele e aos
atenienses. Então, com um peso enorme no coração, Teseu
abandonou sua Ariadne, deixou que ela fosse com Dionísio e
zarpou de Dia sem sua amada.
Ariadne ficou desesperada com a perda de Teseu e em pânico
de se tornar consorte do deus hedonista que a levara pela
força da astúcia. Mas foi pela força sagrada do amor que uma
mudança milagrosa aconteceu no deus Dionísio. Tão
apaixonado ele estava pela bela e pura Ariadne, que não
suportava vê-la tão angustiada. Ele não a tomou à força. Em
vez disso, concordou que só a possuiria quando ela
concordasse em ser sua esposa por livre e espontânea vontade.
Dionísio passou a cobri-la de presentes, a celebrar sua beleza,
até jurou mudar seu comportamento decadente para provar a
veracidade do amor que sentia por ela. Quando Ariadne
percebeu a magnitude da dedicação do deus, e de que maneira
ele havia se transformado, seu coração amoleceu. Com preces
para Afrodite, a personificação de todo o amor, Ariadne
compreendeu que Teseu teria lutado por ela se realmente
sentisse no coração que ela era sua única amada. O fato de
Teseu não ter feito isso significava que ela precisava esquecêlo.
O amor que não é correspondido em medida igual não é
amor, não é sagrado. E apegar-se à idealização de tal
sentimento pode nos impedir de encontrar aquele que é
verdadeiro.
Um dia Ariadne aceitou desposar Dionísio, e os dois viveram
felizes eternamente, como parceiros verdadeiros e iguais no
hieros-gamos. Foi então que Ariadne encontrou o amor real,
com o amado que tinha de fato lutado por ela.
Teseu, por sua vez, só fez lamentar a perda de Ariadne e se
arrepender da fraqueza que o fez tomar a terrível decisão de
abandoná-la, até o fim de seus dias. Em honra daquela que
agora era uma deusa, ele criou um templo em seu nome em
Amatus. Com a estátua de Afrodite que Ariadne levara com
ela ao sair de Creta, ele erigiu uma construção que chamou de
Templo do Amor e a dedicou a Ariadne-Afrodite. Dentro do
templo construiu um labirinto que se tornou o símbolo do
amor e da libertação, e uma dança rítmica que representava a
celebração de uma união divina foi criada para o festival
anual em homenagem a Ariadne; a festa da Dama do
Labirinto que venceu a escuridão com seu amor. O novo
labirinto foi concebido como um lugar de alegria, com um
único caminho em espiral que levava até o centro e de volta à
saída. O labirinto não seria mais um lugar em que almas
humanas se perderiam. Para todo o sempre, seria um lugar
onde o espírito humano podia ser encontrado. Um lugar para
celebrar o que é ao mesmo tempo humano e divino em todos
nós, depois que aprendemos a matar os minotauros que vivem
dentro de nós, com a crença no poder do amor.
Teseu tornou-se o maior dos heróis, implantou a democracia
e a justiça em Atenas, onde ainda é reconhecido como o
fundador sábio e compassivo daquela cidade que ensinou
tanto ao mundo. Não há dúvida de que sua profunda
compreensão da natureza do amor e da perda foi o elemento
que o transformou em um grande líder.
Para aqueles que podem ouvir. Que ouçam.
A LENDA DE ARIADNE, A DAMA DO LABIRINTO,
CONFORME PRESERVADA NO LIBRO ROSSO

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